Salmo 90:
A eternidade de Deus e a
transitoriedade humana
O
salmo 90 marca o início do quarto livro dos salmos. Este é o salmo mais antigo
da Bíblia. É uma composição mosaica. Moisés, no fim de sua vida, compõe essa
canção em forma de oração. Curiosamente, este é o único salmo atribuído a ele.
Nele, Moisés canta a brevidade e a temporalidade da vida humana em contraste
com o poder e a eternidade de Deus. Deus é infinitamente superior ao ser
humano. Ele é superior a todas as suas criaturas. Por isso que ele é soberano.
Todo domínio está em suas mãos. Toda glória é dele. Tudo lhe pertence (Sl 24.
1; Rm 11. 36).
No
salmo 90 aprendo que posso orar cantando. Os louvores podem ser também uma
oração. E Moisés por ser um homem de oração, orou enquanto cantava. Carlos
Spurgion escrevendo acerca do autor desse salmo disse: “Moisés era homem de Deus e de Deus um homem, escolhido por Deus,
inspirado por Deus, honrado por Deus e fiel em toda sua casa”. Isso por que
ele tinha uma característica comum aos homens de Deus – ele
sabia orar! A oração é a marca dos homens e das mulheres de Deus que
influenciaram o mundo. No entanto, falamos de oração, mas não oramos quase
nada. Os nossos joelhos não têm mais calo, os nossos olhos não têm mais
lágrimas, o nosso coração não tem mais calor, não sabemos mais suplicar e nem
lamentar adiante de Deus. Estamos perdendo o hábito de falar com Deus. Leonard
Ravenhill falando sobre o poder da oração escreve: “é possível alguém pregar e ainda assim se perder, mas é impossível
alguém orar e perecer”. E conclui dizendo: “temos que orar se não pereceremos”.
Pois
bem, Moisés inicia sua oração em forma de canção se dirigindo diretamente a
Deus dizendo: “SENHOR, tu tens sido nosso refúgio, de geração em geração”.
Deus é a nossa segurança, Ele é a nossa proteção, o nosso ponto de apoio para a
eternidade. Pois refúgio fala de abrigo para os fugitivos. Adiante da
fragilidade da vida humana, o ser humano só tem um lugar para se refugiar, este
lugar é o próprio Deus. Ele é o teu abrigo, teu lugar seguro, teu escudo, tua
proteção, tua esperança. Com Deus a nossa temporalidade é transformada em
eternidade, nossa fraqueza em fortaleza, nosso desespero em esperança, nossa
tristeza em alegria, nossa insignificância em preciosidade, nossa ignorância em
sabedoria.
Mas
Deus não é o refúgio apenas de Moisés ou de uma geração, ele é nosso refúgio de
geração a geração. Por quê? Porque Deus é eterno. O verso 2 responde: “Antes
que os montes nascessem, ou que tu formaste a terra e o mundo, sim, de
eternidade a eternidade, tu és Deus”. Aqui aprendemos que Deus é
preexistente. Antes que tudo surgisse Deus era. Pois Deus é antes de tudo. E
tudo que existe é uma consequência do ato criativo consciente e inteligente de
Deus. Nada do que existe, existe por si mesmo ou por um acaso. A criação é
resultado de uma ação deliberativa e inteligente de Deus. Ele é antes de tudo e
tudo foi formado por Ele. João escreveu: “todas as coisas foram feitas por ele,
e sem ele nada do que foi feito se fez”. Reconhecendo isso Paulo canta: “porque dele e por ele e para ele são todas
as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém”. (Rm 12. 36).
Deus
é. De eternidade a eternidade ele é mesmo. Ele não muda. Deus nunca deixará ser
o que é. Ele nunca será “um será” ou “já
foi”. “Ele sempre é o mesmo ontem, hoje e eternamente” (Hb 13. 8). Por isso
que Ele foi o refúgio de Moisés e de tantos outros, mas também é o meu e o teu
refúgio.
Tudo
está sob o domínio dele, inclusive o homem e a mulher, o verso 3 diz: “tu
reduzes o homem a destruição. E dizes: volte, filhos dos homens”. Aqui
começa a demonstrar a disparidade entre Deus e os homens. Deus é eterno, o
homem finito; Deus é o criador de todas as coisas; o homem uma das criaturas de
Deus. Deus existe por si mesmo, o homem consequência do ato deliberativo e
criativo de Deus. Deus não morre, a vida humana está nas mãos de Deus. Neste
versículo também aprendemos que do ponto de vista divino a morte é uma volta à
convite do próprio Deus. “Volte, filhos dos homens”. Este
convite é irresistível. Quando Deus chama nada segura, nem dinheiro, nem poder,
nem fama, nem posição. Todos, sem exceção, têm esse convite consigo, com data e
hora marca. Lhe pergunto: você está preparado para esse dia?
O homem
deve estar preparado e refugiado em Deus, pois sua vida é muito curta. Ele
passa rápido demais e mesmo que o homem vivesse mil anos, ainda seria pouco
adiante da eternidade de Deus. Seria como uma vigília da noite. Observe o que
verso 4 diz: “porque mil anos são aos teus olhos como um dia de ontem que passou,
como a vigília da noite”. Por mais que vivemos, vida é um pequeno
momento. Ela é comparada no Salmo como:
• É como dia de ontem...
• É como a vigília da noite...
• É como água que corre...
• É como um sono...
• É como erva que cresce de madruga,
floresce ao meio dia e seca ao entardecer.
• É como um conto ligeiro. A história
de um homem depois de muitos anos vivido pode ser narrada é um pequeno conto
poético.
Moisés
conclui dizendo que a média de vida dos homens é de setenta anos. Essa média
ainda permanece até aos dias de hoje. É bem verdade que alguns países as
pessoas chegam aproximadamente aos 100 anos. No entanto, em outros lugares,
alguns não chegam aos 40 anos. Portanto, a média de vida mundialmente falando,
permanece entre os setenta anos.
Mas
porque o ser humano vive tão pouco tempo?
Por
causa do pecado. O verso 7 diz: “pois somos consumidos pela tua ira e pelo
teu furor somos angustiados”. O pecado provoca a ira de Deus. Deus não
aceita o pecado, e por causa disso os homens sofrem e reduzem cada dia a sua
vida. A própria morte é uma consequência do pecado. As doenças são consequências
do pecado. A brevidade da vida também é consequência do pecado.
E
o pecado não está oculto adiante de Deus: “diante de ti puseste a nossa iniquidade; os
nossos pecados ocultos, a luz do teu rosto”. Adiante da luz da glória
do rosto de Deus os pecados ocultos são expostos, são revelados, nada está
oculto para Deus. Alguém pode esconder do irmão, do ministro, mas nada está
escondido para Deus. Deus conhece o secreto e o íntimo dos seres humanos.
Consciente
da transitoriedade, fragilidade e pecaminosidade do homem em disparidade com a
eternidade, onisciência e santidade de Deus, Moisés roga:
1) “Ensina-nos a conta nossos dias, de tal
maneira que alcancemos coração sábio”. Moisés pede ao próprio Deus para ser o seu professor.
Para ensinar-lhe a refletir acerca da vida, usando a própria vida, a própria
experiência. Contar os dias significa aproveitar os dias o máximo possível, a
fim de alcançar coração sábio. Uma das coisas que devemos desejar é a
sabedoria.
2) “Volte-te para nós, Senhor”. Não nos
deixe. Sabemos que pecamos contra ti, sabemos que o pecado afasta o Senhor de nós.
Mas nos perdoe. Volte para nós. Moisés era louco pela presença de Deus. Assim
como Moisés não podemos abrir mão da presença gloriosa de Deus.
3) “Aplaca-te para os teus servos”. Eu
sei que o pecado provoca a tua a ira, mas tenha misericórdia. Aplaca-te.
Perdoe-nos. Somos dependentes do perdão de Deus.
4) “Sacia-nos com a tua benignidade”. O
homem tem sede de Deus. Só Deus pode saciar a sede humana. Só Deus pode
preencher o vazio da alma.
5) “Alegra-nos em nossos dias”, apesar
do mal, da aflição... Estamos sujeitos às aflições mesmo sendo servo de Deus. Moisés
reconhece que as tribulações e as calamidades da vida tem origem no próprio
Deus. Para a Teologia dos dias de Moisés tudo vinha de Deus, até mesmo as
aflições e o sofrimento. No entanto, mesmo com o sofrimento e com as decepções
ele pede – alegra-nos. As tempestades da vida não são impedimentos para Deus
nos alegrar.
6) “Manifeste a tua gloria sobre os teus filhos”. Isaías ouviu os anjos cantando: "toda a terra está cheia da tua glória". A glória de Deus está sobre os filhos e sobre as filhas de Deus em toda a terra. E essa glória é nome de Jesus e seu Espirito ardendo em chamas em nosso coração.
7) “Seja sobre nós a tua graça”. A graça
de Deus é razão da nossa esperança salvadora. Paulo escreveu que a graça de
Deus se manifestou salvadora a todos os homens (Tt 2. 11). A graça de Deus nos
basta. Ela preenche as nossas necessidades em Deus.
8) “Confirma as obras de nossas mãos”. Podemos até trabalhar muito, mas
para prosperar precisamos da benção de Deus. Salomão escreveu que o cavalo e
cavaleiro se preparam para a batalha mais a vitória vem do Senhor. Se o Senhor
não confirmar, nosso esforço para nada serve.
Amém.
Deus é eterno e o homem mortal. Mas
por meio de Cristo, é possível nossa mortalidade se revestir de imortalidade,
alcançando a vida eterna em Deus.
Pastor Joventino
B. Santana.