Três
ações imediatas de Deus em busca do homem irremediavelmente perdido
Na ótica divina, a salvação
é tão importante que foi planejada antes dos tempos e dos séculos. Antes mesmo
da criação do homem, antes de houvesse tempos, séculos e horas, a salvação foi
planejada pelo conselho da trindade, nos recantos da eternidade. Paulo expressa
sobre o assunto com as seguintes palavras: “em
esperança de vida, a qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos
e dos séculos” (Tt 1. 2).
Mas o que é salvação?
No Antigo Testamento, o
principal termo para salvação é YASHA, é
libertar-se daquilo que prende ou restringe. Significa também, soltar, dar comprimento,
liberdade e largura. Deve ser por isso que, o Apóstolo Paulo, falando do amor
salvador de Deus, disse que devemos estar arraigados e afundados em amor, para
compreendermos qual seja o comprimento, a largura, a altura e a profundidade do
amor de Cristo, que excede todo entendimento (Ef 3. 17 – 19). A salvação,
portanto, proporciona liberdade em Cristo, largueza e extensão espiritual.
Já no Novo Testamento, a
palavra mais usa para salvação é SOTERIA
e pode ser traduzido por cura, remédio, recuperação, restauração, redenção,
restituição e bem-estar.
Teologicamente, a salvação é
a obra completa de Deus que consiste em transportar o homem do estado de pecado
para o estado de glória em Cristo. É a restituição do homem e da mulher à plena
comunhão com Deus. É o maior presente de Deus para o ser humano, a ser
desfrutado pelos crentes em Cristo Jesus, desde agora, consumando na
eternidade. É a oferta de Deus por meio de Jesus Cristo para o homem e para a
mulher.
Agora, porque a salvação é
uma necessidade? O que foi que aconteceu de errado com o ser humano que o
tornou carente de salvação?
Originalmente o ser humano
foi criado perfeito. Salomão escreve: “vede,
isto tão somente achei: que Deus fez o homem reto” (Ec 7. 29). O ser humano
foi criado em pleno estado de perfeição. Ele possuía a imagem e semelhança de
Deus. Estava em perfeita harmonia com a natureza e consigo mesmo. A terra não
tinha espinhos, o homem não precisa fadigar-se para comer, tudo estava à sua
disposição naturalmente. Não existiam no ser humano os conflitos internos e os
temores. Ele era perfeito psicológico, biológico, moral e espiritualmente. Ele
se relacionava com a natureza, consigo mesmo e com Deus sem temores,
harmoniosamente.
Mas no percurso da historia
humana, houve um desastre antropológico espiritual. Uma catástrofe, que
desencadeou toda desgraça da humanidade. O homem caiu. Pecou. Saiu, por
iniciativa própria, da presença de Deus. Não foi Deus que planejou a queda,
embora ele soubesse da queda, antes da queda, pela sua presciência. Foi, o
próprio ser humano, que orgulhosamente, decidiu ser igual a Deus, culminando em
seu afastamento de Deus, perdendo a imagem e a semelhança com o próprio Deus.
Quis ser igual a Deus, conhecendo o bem e o mal, deixou de ter a imagem e a
semelhança completa de Deus. Perdeu a perfeição. Perdeu a harmonia que tinha
com a criação e com Criador. Perdeu a si mesmo. Percebeu que estava nu, foi
possuído pelo sentimento de medo, e fugiu de Deus, como se de Deus pudesse esconder-se.
Ele perdeu conhecimento original sobre Deus. Pois de Deus ninguém pode ser
ocultar.
A queda histórica da
humanidade inicia por meio da dúvida da Palavra de Deus. Satanás pôs dúvida no
coração do ser humano acerca da ordem divina, de não comer do fruto da árvore
que estava no centro do paraíso. Deus havia dito expressamente que de todos os
frutos das árvores que estavam no Jardim, poderia comer livremente, apenas da
árvore do conhecimento do bem e do mal que não poderia comer. Mas o inimigo de nossas
almas, paradoxalmente, interroga dizendo: “foi
assim que Deus disse: não comereis de todas as árvores do Jardim?”. Satanás
põe um ponto de interrogação onde Deus pôs um ponto final. Ele induz o ser
humano a duvidar da ordem de Deus e a questionar o mandamento divino. O ser
humano que originalmente estava firme, agora principia a duvidar de Deus.
Com o coração já possuído
pela dúvida, Satanás pôs outro sentimento, o desejo maligno de ser igual a
Deus. Ele disse: “porque Deus sabe que,
no dia que comerdes dele, se abrirão vossos olhos e sereis como Deus”. Eva
não come do fruto proibido, não apenas porque era desejável, mas pelo desejo
interno que agora tinha de ser igual a Deus. A árvore da exceção, que estava no
centro do Jardim, só se torna agradável e seu fruto desejável, pelo desejo de
ser também um deus, igual a Deus. E esse desejo foi acompanhado por certa
revolta contra Deus. Satanás sugere isso em sua afirmação, dizendo que Deus é
que estava enganando-os, mentindo, pois não queria que eles soubessem que
aquela árvore lhes faria iguais a Deus. Observe como Satanás inicia sua
afirmação: “porque Deus sabe”. Ele
está dizendo que Deus sabia de uma coisa e disse outra, completamente
diferente. E isso parece provocar uma revolta no coração do ser humano contra
Deus, acompanhado agora do desejo de ser igual a Deus, para competir com Deus.
O homem já mais pode ser
como Deus. Deus é o criador e nós somos suas criaturas. Deus é o Senhor e nós
somos os seus servos. Deus está em cima e nós estamos aqui. Deus é eterno e nós
somos mortais.
Entretanto, esse maligno
sentimento de ser um deus e como Deus, de competir com o criador, tornando até
inimigo dele, tem perpassado a historia da humidade. As pessoas geralmente não
buscam Deus, querem ser deuses. Não procuram curvar-se adiante de sua glória,
querem glória para si mesmo. Não rendem culto a Deus, querem ser cultuadas.
Esse desejo de ser igual a Deus, e não de ter
imagem e a semelhança de Deus, como originalmente Ele nos criou, mas de ser
também um deus, resultou, no que teologicamente, chamamos de queda.
A queda trouxe serias
consequências para a humanidade. Incialmente, eles foram possuídos pelo
sentimento de culpa, descobriram que estavam nus, e desesperadamente buscaram
folhas de figueira para fazer vestes para si, numa vã tentativa de encobrir seu
erro. Eles perderam a perfeita harmonia que tinha com a própria natureza, foi
tomado pelo sentimento de insegurança, de ausência de proteção, e
desesperadamente fizeram vestes de folhas. Agora, eles buscam pelos próprios
esforços minimizar e até se salvar daquela situação.
O homem percebendo que não
pode salvar a si mesmo por meio de seus próprios méritos, em vez de buscar a
Deus, ele foge de Deus. Antes, no estado de perfeição original, era a imagem e
a semelhança de Deus; no processo histórico da queda, o homem quer ser um deus,
igual a Deus, para competir com Deus; depois da queda, ele esconde-se de Deus.
E Deus, adiante de fracasso
humano, sabendo que o homem jamais pode salvar-se a si mesmo, ainda no Jardim
do Éden, pôs em execução o seu plano redentor, tomando imediatamente três ações
em busca do homem irremediavelmente perdido.
Em
primeiro lugar, Deus procura o ser humano (Gn 3. 9). Adão e
sua esposa se escondem de Deus. Fogem da sua presença entre as árvores do
Jardim, pois, não mais resistiam à presença gloriosa de Deus. Seus corações
estavam possuídos pela culpa e pelo medo.
Era para Adão buscar a Deus
e confessar o seu pecado. Mas ele tentou encobrir sua transgressão e ocultar
seu delito, escondendo-se de Deus (Jó 31. 33). Então, o próprio Deus, por meio
de sua eterna graça, toma a iniciativa, aparece no Jardim e chama Adão: “onde estás?”.
Deus sabia onde Adão estava
e sabia também em que condição Adão se encontrava. Mas ele chamou-o a fim de
conscientizá-lo de que a comunhão havia se rompido, o pecado havia de fato provocando
uma separação entre ambos (Is 59. 2), no entanto, o Deus de amor, ainda o
procurava afim de restaurá-lo.
E foi com esse objetivo que
Jesus veio ao mundo. Ele veio buscar e salvar o que se havia perdido (Lu 19.
10). Ele está buscando você. Ele deseja salvar aqueles que estão perdidos.
Em
segundo lugar, Deus promete um salvador (Gn 3. 15). E o salvador
nasceria da semente da mulher. O seu calcanhar seria ferido, todavia, ele esmagaria
a cabeça da serpente. O ferimento do calcanhar fala sobre a morte de Jesus na
cruz. A nossa vitória e salvação dependeriam da morte de Cristo. Por isso que
Isaias disse: “verdadeiramente, ele tomou
sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre; e nós o reputamos
por aflito e ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi ferido pelas nossas
transgressões, moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz
estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53. 4, 5). Deus,
em Cristo, pagou um alto preço a favor da nossa redenção.
Já a cabeça ferida da
serpente pelo calcanhar da semente da mulher, fala da vitória de Jesus sobre
satanás e sobre o reino das trevas. Ele seria ferido, todavia satanás seria
ferido mortalmente. A vitória seria completa. Por isso que, quando Jesus
ressuscitou disse: “é me dado todo o
poder nos céus e na terra” (Mt 28. 18). Ainda em Apocalipse ele mesmo
disse: “e o que vive; fui morto, mas eis
que estou vivo para todo o sempre. Amém! E tenho as chaves da morte e do
inferno” (Ap 1. 18). Todo o domínio está com Jesus. Tudo está em seu
controle absoluto. Por isso que cada crente em Cristo pode cantar com o
Apóstolo Paulo: “mas graças a Deus, que
nos a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”. E a maior vitória do crente é, sem dúvida, a
sua salvação.
Em
terceiro lugar, Deus providenciou uma vestimenta para o homem (3.
21). Adão havia perdido as vestes de glória. Estava despido adiante de Deus. As
vestes de folhas, que ele havia confeccionado, não foram aceitas por Deus. Eram
frágeis, não resistem o calor do sol e tem pouca duração. Elas representam as
obras dos homens para salvar-se a si, por meio de si mesmo, sem precisar de
Deus. Mas as nossas obras, conforme o profeta Isaias, são como trapos imundícias
(Is 64. 6). No tocante a salvação, para nada servem.
Então Deus providencia uma
veste de pele. Ele imola um animal e tira sua pela e veste Adão. Para Adão
vestir precisou que um animal morresse. Esse animal, que não sabemos qual,
prefigura Jesus. Para que pudéssemos alcançar a salvação, ele morreu por nós, literalmente
despido na cruz (Mt 27. 28, 35). Ele se despiu de toda sua glória, tornando-se
homem, fazendo-se um escravo, para nos vestir com as vestes reis da salvação (Fl
2. 6 – 8; Is 61. 10).
Essas ações imediatas, ainda no Jardim do
Éden, demonstram o grande amor de Deus pela criatura humana. Ele nos ama, com
forme João, de tal maneira (Jo 3. 16). Imensurável e inexplicavelmente Ele nos
ama e deseja nos salvar (Rm 5. 8; I Tm 2. 4). Ouça o convite de Deus. Assim como
chamou Adão, Ele, por meio de Cristo, te chama também. Ele deseja lhe vestir
com as vestes espirituais da salvação e te cobrir com o manto da sua justiça
(Is 61. 10).
Pastor
Joventino Barros Santana
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